Ir direto para menu de acessibilidade.
Início do conteúdo da página

Homenagem

Publicado: Terça, 10 de Novembro de 2020, 20h05 | Última atualização em Terça, 10 de Novembro de 2020, 20h10

Homenagem ao Cabo Geraldo Martins Santana, militar da Força Expedicionária Brasileira

Montes Claros (MG) - No dia 4 de novembro, foi inaugurado, na Avenida do Exército, em frente ao 55º Batalhão de Infantaria, em Montes Claros (MG), um monumento para homenagear o Cabo Geraldo Martins Santana, militar da Força Expedicionária Brasileira, morto na Segunda Guerra Mundial e, na manhã dessa sexta-feira, 6 de novembro, o local foi apresentado oficialmente à família do homenageado.

O espaço já se encontra aberto para a visitação do público.

O Conjunto Memorial ao Cabo Geraldo Martins Santana é o maior memorial da Força Expedicionária Brasileira (FEB) em Minas Gerais e um dos maiores do Brasil.

O projeto arquitetônico foi elaborado pela arquiteta Viviane Câmara Medeiros, que projetou um pilar de quatro metros de altura para receber a estátua de 3,2 metros representando o Cabo Santana com o uniforme da FEB. No local há também uma praça circular com a estrela de cinco pontas do Exército feita em jardinagem, com inscrições das batalhas da FEB nos ladrilhos do chão. Cinco pilares recontam a história da FEB.


BIOGRAFIA

Nascido em 29 de março de 1923 em Montes Claros – MG, filho de Antônio Martins Santana Primo e Josefina Cândido Santana, assentou praça no 10º Regimento de Infantaria em Belo Horizonte, em 1° de março de 1941. Promovido a Cabo em 5 de setembro de 1942, com a formação da Força Expedicionária Brasileira em agosto de 1943, incorporado ao 11º Regimento de Infantaria (11° RI), em São João Del Rei, em 11 de janeiro de 1944. Foi transferido, juntamente com todo o contingente do 11° RI, para a Vila Militar do Rio de Janeiro naquele mês, passando a realizar todo o treinamento físico em conjunto com o restante da divisão.

Em seguida, foi transferido para o 6º Regimento em 22 de junho de 1944, embarcando para a Itália junto ao 1º Escalão, em 2 de julho de 1944, desembarcando em Nápoles no dia 16 de julho. Pertencia à 5ª Companhia do II Batalhão (comandado pelo Major Abílio Cunha Pontes), e com essa unidade participou da Campanha do Vale do Serchio, a partir de 15 de setembro.

No dia 2 de novembro, o II Batalhão deslocou-se para o Vale do Reno, ocupando posições em frente à Torre di Nerone. Enquanto guarnecia a linha de frente numa trincheira na localidade de Palazzo d’Affrico no dia 9 de novembro, o Cabo Santana foi mortalmente ferido por um estilhaço de morteiro alemão, tornando o primeiro e único filho de Montes Claros a morrer em combate na Segunda Guerra Mundial. Foi sepultado no cemitério americano em Vada, sendo trasladado para o cemitério brasileiro em Pistoia, em 1945.

Foi agraciado com a Medalha de Campanha, Medalha Sangue do Brasil e a Cruz de Combate de 2ª Classe, por “ação de feito excepcional na campanha da Itália”. Em 1961, seus restos mortais foram trasladados para o Brasil, descansando hoje no Monumento Nacional aos Mortos na Segunda Guerra Mundial, no Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro – RJ.

Ainda nos últimos dias da Segunda Guerra Mundial na Europa, no dia 1° de maio de 1945 em Montes Claros, em emocionante cerimônia, a antiga Rua 15 de Julho foi rebatizada “Cabo Santana”.

Em 1959, o vereador Robinson Crusoé de Macedo, apresentou projeto de resolução para erigir um monumento ao Cabo Santana, com os seguintes dizeres: “Como homenagem póstuma aos heróis expedicionários falecidos nos campos de batalha do antigo continente, fica o senhor Prefeito Municipal autorizado a erigir um monumento em uma de nossas praças públicas, representada com o busto do montesclarense Cabo Geraldo Santana”. Essa se tornou a Resolução Nº 40, de 28 de dezembro de 1959, que aprovou o texto do vereador, sendo assinada pelo presidente da câmara, Dr. João do Valle Maurício, e pelo secretário, Prof. Pedro Martins de Santana – irmão do homenageado.

CARTA PARA UM FILHO

Às vésperas do falecimento do Cabo Geraldo Santana, seu pai Antônio Martins Santana Primo, escreveu uma carta para o filho, que nunca chegou a ser lida.

Na carta, que encontra-se no acervo pessoal da família, de acordo com o professor de História Júlio César Guedes Antunes, o pai nos dá uma lição de cidadania e patriotismo, reforçando para o filho os valores do soldado e da família brasileira.

Veja a carta na íntegra, no arquivo abaixo.

Carta de Antônio Martins Santana Primo ao seu filho no front, Geraldo Martins Santana

Montes Claros, 28 de outubro de 1944
Querido filho Geraldo:
Saudades…
Recebi do Quartel-General do Rio de Janeiro comunicação que foste incorporado à Força Expedicionária Brasileira.
Não foi pra mim nenhuma surpresa, porque o soldado está sempre sob as ordens dos seus superiores e deve acatar essas ordens com todo o respeito.
Foste incorporado porque era necessário que a Pátria insultada respondesse à agressão dos corsários Nazistas que agiram debaixo de espesso nevoeiro, matando nossos irmãos.
Aqui, em casa, todos receberam com imenso orgulho essa notícia. Filho, jamais surja em teu cérebro o pensamento de um homem covarde. Seja firme no cumprimento do dever, principalmente quando a nossa Pátria foi traiçoeiramente atacada pelos vilões de além-mar.
Não importa que o intenso inverno dificulte a nossa marcha ou que o sol abrasador faça demorar o avanço, o certo é que precisamos chegar até o fim do nosso itinerário ombro a ombro com as FORÇAS ALIADAS.
Ainda me recordo daquela bela poesia que diz em uma de suas estrofes:
Para a frente que importa a invernada,
Temporal, inclemência de sois.
Quem for fraco, que fique na estrada,
Que a vanguarda é o lugar dos heróis.
Pedimos a Deus para conservar tua pessoa ilesa das balas assassinas dos Nazistas; porém, se for do agrado do Altíssimo que o teu corpo tombe no campo de batalha, para que muitos outros vivam, seja feita a vontade de Deus.
O ataque deve ser repelido embora sucumbam alguns dos nossos. Que papel faríamos se permanecêssemos de mãos cruzadas quando o inimigo comum tentou ultrajar a nossa soberania?
Seremos por ventura alguma estátua onde o sangue não circula?
É legal trair nossa tradição?
Não, isto não.
Dos túmulos de Caxias, do Tenente Antônio João, de Camisão e outros mais, ouviríamos o grito da dor do insultado dizendo-nos:
Irmãos, hoje mais do que nunca o Brasil precisa vingar os seus filhos.
Levai em resposta à agressão a esses Nazistas o brilho de uma baioneta empunhada para que os nossos sejam vingados.
E, assim, acalmarão as ondas tempestuosas do mar furioso, e a bonança reinará para todos os povos do mundo, que foram vítimas dos sutis ataques do Eixo.
Portanto, filho, não queiras ter maus pensamentos e jamais haja em tua pessoa o desespero.
Seja também calmo. Porque todos nós temos que morrer um dia; logo, é desnecessário e mesmo indecente o desespero.
Muitos se enganam com a morte.
Ela não causa assombro a ninguém, porém enobrece a muitos. Se for preciso, morre em honra da Pátria e viverás eternamente. A tua lembrança ficará sempre conosco.
Um conselho: conserve sempre a tua fé em Deus e jamais a deixe seduzir por outrem. Todos nós estamos indo bem graças a Deus.
O que sentimos são saudades tuas, mas esperança de que em breve estarás aqui em Montes Claros conosco.
Terminando, pedimos a Deus por tua pessoa e pela honra e glória do Brasil e o cabal êxito da FORÇA EXPEDICIONÁRIA BRASILEIRA.
Queira aceitar a benção de teu pai e os abraços que teus irmãos, tias e cunhados lhe mandam.
Teu pai,
Antônio Martins Santana Primo

Fonte: 4ª RM

registrado em:
Fim do conteúdo da página